Quando sopram os trigais
Edinara Leão
Borck /virArte 2006
Série Escrevinhador vol. I

Valsar

Estar em teus braços
leves
por instantes
breves
é como dançar
"Contos dos Bosques de Viena"
- valsar
e valsar
na leveza de teus passos -
e em uníssono
agregar à vida
mais um sonho
no brilho da nossa estrela.

Edinara Leão
( Quando sopram os trigais, 2006 )

Ânsia

Não sei o que quero
não sei o que queres
e falamos demais
e falamos de menos
ou nada falamos
deixamos as rédeas
de nossas ânsias,
castradas pelo tempo
e distância
de mãos,
falarem
sem a teia das palavras
na rede da energia
na polaridade do alumbramento
de tuas águas

não te vislumbro amanhã
sinto teu corpo
sobre o meu
hoje
apenas...

Edinara Leão
( Quando sopram os trigais, 2006 )

Enquanto a cidade dorme

Enquanto a cidade dorme
rememoro
enxovalhados pensamentos
olho o asfalto e as luzes,
mas não vejo nada
- tudo que vejo é nada -
um coletivo
duas ou três pessoas
um cachorro,
idas e voltas

a cidade dorme
e não posso adormecer também

Edinara Leão
( Quando sopram os trigais, 2006 )

Pecado

Primeiro
ele se achegou
com uma flor na mão

depois
mexeu na casa
cortou meus cabelos
fez nossa comida

e então
tomou meu ventre
e cometemos o pecado
de amar
sem amor

Edinara Leão
( Quando sopram os trigais, 2006 )

Máscaras

Mágico é o instante
do encontro das
mãos
Mas tua busca é maior
queres além das mãos
queres a mim inteira

( como se eu inteira
fosse... )

Edinara Leão
( Quando sopram os trigais, 2006 )

Novos (velhos) tempos

Nuvens em janeiro?
- não!
Névoas em janeiro?
- sim!
E nos mecânicos sonhos
dos novos,
o cosmo se renova,
é verão
e o sol aquece,
clareia,
só não dilui
a escuridão
do coração,
não esvanece a dor
não faz nascer o amor
o amor
só sente a nostalgia
do paraíso
- in illo tempore -
e o desejo cru
de reintegrar-se
à criação
já não podendo...Ser!

Edinara Leão
( Quando sopram os trigais, 2006 )